quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Povo do Oriente, Povo Cigano do Oriente

 

Povo do Oriente, Povo Cigano do Oriente

Para falar sobre esse povo maravilhoso e Iluminado vamos começar por diferenciar um pouco e aproveitar para classificá-los numa escala compreensiva.


Hoje chamam oriente a várias coisas diferentes. Temos assim várias subdivisões do termo (fora aquelas que não conheço):
O Povo do Oriente em si, é formado por um grupo de mentores de energia mais sutil e que realmente trabalham em um nível mais elevado de vibração. Podem ser indus, egípcios, chineses, asiáticos e antigos mesopotânios,hititas , sem falar nos incas e outros povos das américas, esses mais difíceis de achar.



Os ciganos do oriente, aqueles que são orientais de origem , que no passado distante , em geral foram sacerdotes e sacerdotizas de outros povos com grande conhecimento espiritual, não se misturam com os exús, pois suas linhas de trabalho não combinam. Isso nos mostra que não devemos confundir as Pomba-Giras Ciganas com Povo o Cigano(Sejam do oriente ou não) , pois são criaturas de classes diferentes.
Ciganos realmente orientais, tem na maioria das vezes seus assentamentos são feitos com ouro e outros materias que aqui não posso revelar( sementes, favas, cristais...).

Assim temos: 
Povo Oriental: Normalmente conhecidos como mentores são Mestres de outros povos do oriente com grande desenvolvimento espiritual e conhecimento profundo de vários assuntos. São muito cultos e responsáveis, de poucas palavras e muito trabalho. Apresentam-se de forma humilde e simples, não necessitando de nenhum tipo de oferenda além da fé e da dedicação de seus aparelhos, além de exigirem o cumprimento de regras básicas para uma melhor interpenetração de energias com seus médiuns( não comer carne 24 hs antes das sessões, não praticar sexo no mesmo período, manter o corpo e a mente limpos, não consumir álcool, etc... Têm uma vibração extremamente sutil. E esperam que seus médiuns cumpram sua parte no que se refere ao preparo correto para trabalhar com suas energias. Trabalham mais pela irradiação do que pela incorporação propriamente dita.

Ciganos do Oriente: São uma classe de ciganos, composta por aqueles entre eles que em encarnações anteriores tiveram grande conhecimento da espititualidade e de magia, a maioria encarnou entre o povo cigano posteriormente e de tal povo preferiram guardar a imagem com a qual aparecem para nós. Em geral denominam-se ciganos do oriente, para situarem de onde vêm, pois viveram no antigo oriente médio ou no extremo oriente. São mais antigos, ou antes, lembram-se de tempos mais remotos em que foram conhecedores do poder e da magia dos antigos templos.



Não são tão sutis quanto o Povo do Oriente, mas também não são tão mundanos quanto os Ciganos (europeus, apenas para explicar). Levam tudo muito à sério, mas também são alegres, gostam de cantorias , bebem licores,vinho branco,chás de frutas, alguns fumam outros não, Comem comidas ciganas e muitas frutas e frutos da terra. Gostam muito de flores em suas oferendas e trabalham com cristais, cromoterapia, numerologia, astrologia,limpezas de aura, uso dos chacras, fluidoterapia, fluidificação de água com fins curativos, aromoterapia, tarot,  e outros jogos e feitiços de seu conhecimento.
Gostam muito de trabalhar com a cura física e com a doutrinação que cura espiritualmente.
Ciganos: Povo nômade com grande conhecimento de magia , muito alegre, dançante, raça que tem conhecimento de muitos povos justamente por sua origem nômade e sua capacidade de num só tempo cultivar suas tradições e adaptar-se a novos lugares e costumes. Ao contrário dos orientais, não passaram suas vidas no oriente, e sim em andanças pela europa e alguns países do oriente próximo , alguns poucos passaram pela ásia, na altura da ìndia, mas em geral vêm da Europa, e dos países da antiga cortina de ferro.
Trabalham muito com magia do amor e de prosperidade. Bebem, fumam, e seu cardápio inclui as comidas ciganas tradicionais, frutos e frutas. Jogam cartas , lêem mãos São devotos de Santa sara, e de Noss senhora Aparecida. São católicos em sua maioria.

Pomba-giras Ciganas. Não são , em geral ciganas de origem , tornam-se “ciganas” em função do seu modo de vida que levaram e/ou porque buscam o conhecimento da magia cigana para trabalharem, ou porque em algum tempo em suas vidas passadas conviveram com esse povo e dele adquiriram alguns hábitos.
 Nota:Podemos encontrar também entre a malandragem alguns espíritos de ex-ciganos que reencarnaram e se tornaram malandros ( nem todos os malandros se enquadram nesta afirmativa.

Fonte Facebook 
Poesias cigana da estrada 
Autoria  Cristina Zecchinelli

domingo, 27 de setembro de 2020

NO QUE CONSISTE O TRABALHO DE CURA DA LINHA DO ORIENTE NA UMBANDA?

 NO QUE CONSISTE O TRABALHO DE CURA DA LINHA DO ORIENTE NA UMBANDA?

Pai Tomé responde:

O trabalho vibratório de cura dos mentores orientais na Umbanda consiste em criar e dirigir conscientemente vibrações de energias vitais a indivíduos afetados por doenças e outros distúrbios. Por intermédio da irradiação intuitiva, “acostados” em seus médiuns, o fluido vital é extraído do citoplasma de suas células. Isso é feito internamente, afrouxando-se a coesão molecular e projetando-se o ectoplasma liberado, pelo poder da vontade do mentor operante. Externamente, as vibrações dos cânticos, assim como as entoações das vozes humanas com palavras cadenciadas, frases e afirmações positivas e vivificantes, impregnadas da consciência de Deus, potencializam todo o procedimento. Como toda a Criação consiste em variadas frequências de vibração, e o som tem um poder muito grande, as palavras cantadas e proferidas inteligentemente não são apenas sons de comunicação ordinária, e sim extraordinário condutor mântrico de vibrações de pensamentos e energias curativas.

- do livro ESTRELA GUIA - O POVO DO ORIENTE NA UMBANDA. Pai Tomé / Norberto Peixoto.

Saiba mais:
https://www.livrariadotriangulo.com.br/

A imagem pode conter: 2 pessoas, texto que diz "Pai Tomé responde: o TRABALHO DE CURA DA LINHA DO ORIENTE NA UMBANDA. PÉROLASDE RAMATIS"

O Violino Cigano

 O Violino Cigano

Numa bela casa rodeada por um bosque enorme e sombrio viveu muito tempo atrás um barão viúvo e rico com suas três filhas. A mais velha chamava-se Dronha e era talvez a pessoa mais insuportável das redondezas. Porque além de muito feia, com sua boca enorme de dentes pontiagudos, ela conseguia deixar uma impressão horrível em todos que a conheciam. Achava que o mundo conspirava contra ela e não poupava ninguém do seu mau humor, com suas palavras sempre ríspidas e seus olhos apertados em constante irritação. A filha do meio era mais tonta do que propriamente de má índole. Mas era preguiçosa e impaciente, e maltratava todo mundo exigindo que seus desejos fossem satisfeitos imediatamente. Seu nome era Catina e sua aparência de igualava à de Dronha em feiura. O pior de tudo era o contraste entre as duas e a irmã mais nova, Leila. Não havia ninguém que não gostasse dela. Bela como um botão de rosa, parece que sua beleza tornava-se ainda mais exuberante pela alegria e doçura que acompanhavam todos os seus gestos, pela graça do seu olhar, pelo acolhimento atencioso que dispensava a quem se aproximava dela. Por sua causa, a situação das outras irmãs ficava ainda mais delicada. Era evidente, por exemplo, a preferência do velho barão pela filha mais nova e, o mais grave, todos os jovens do povoado só pediam a mão de Leila em casamento. Para garantir que as outras duas não ficassem solteiras, o pai dizia que só permitiria que Leila se casasse depois das irmãs. Isso não adiantou nada já que ninguém aparecia para cortejar Dronha e Catina.
Um dia elas pediram ao pai que não deixasse mais Leila ir junto com elas aos bailes e festas, para ver se alguém as convidava para dançar. Assim foi feito mas mesmo Leila tendo concordado de bom grado em não sair de casa, as irmãs ficavam a noite inteira sentadas num canto da festa, ignoradas por todos. A raiva que as duas sentiam de Leila foi aumentado dia a dia, até que Dronha chamou Catina e lhe disse:
- Temos que fazer alguma coisa para nos livrarmos de Leila. Se ela continuar viva, não há esperança para nós, vamos ficar solteiras até nossa morte.

- Que horror – disse Catina -, ela é nossa irmã, você não pode nem pensar em fazer nada contra ela. Não conte comigo para nenhum plano.
- Pois então está bem. Cuido de tudo sozinha, não preciso mesmo de uma idiota que só atrapalha como você.
No dia seguinte Dronha convidou Leila para um passeio no bosque. Leila ficou feliz, afinal quase nunca saía de casa e adorava caminhar no meio das árvores. As duas passaram a tarde conversando enquanto se embrenhavam cada vez mais para o fundo do bosque, onde havia um grande precipício à beira do caminho. Foi para lá mesmo que Dronha conduziu a irmã sem que ela desconfiasse de nada.
- Nossa – disse Leila -, eu nunca tinha chegado até aqui. Imagine se alguém cair lá embaixo, dá medo só de pensar.
- Que tal experimentar esse medo pessoalmente? - gritou Dronha, empurrando Leila com toda força abismo abaixo.
No meio da queda, a pobre menina agarrou um ramo de zimbro enraizado no morro e ali ficou dependurada, tentando não soltar a mão de jeito nenhum.
- Por favor – ela dizia -, não faça isso comigo, Dronha. Não me deixe morrer nesse lugar. Ajude-me a sair daqui.

- Vou ajuda-la, com certeza – respondeu a irmã completamente transtornada. E, pegando um pedaço de pau, Dronha bateu com fúria na mão da irmã que segurava o galho de zimbro.
Com um grito de dor, Leila largou o galho e caiu nas profundezas do abismo. A irmã olhou para baixo e não viu nem sinal dela. No silêncio daquele lugar tenebroso ficou guardado o segredo do seu crime, e ela foi para casa certa de que tinha feito o que era necessário e que agora sua sorte ia mudar.

No dia seguinte o barão achou estranho que Leila não estivesse na casa e que ninguém soubesse dizer para onde ela tinha ido. Preocupado, ordenou que os empregados dessem uma busca nos arredores, depois foi ele mesmo acompanhado de homens valorosos procurar a menina nos quatro cantos daquele reino, dia e noite sem parar. Mas Leila tinha desaparecido e, por incrível que pareça, ninguém se lembrou de procurá-la no abismo do bosque. Um ano se passou, e enquanto na casa grande o barão chorava a perda de sua filha querida, Leila jazia sem vida no fundo do precipício. Mas enquanto seu corpo se decompunha e se misturava à terra, às folhas secas, às pedras e à areia, o ramo de zimbro de permanecia na sua mão foi se enraizando e ganhando força no meio daquele solo fértil e úmido. Depois de dois anos transformou-se numa árvore comprida, cujos ramos mais altos chegaram até o caminho, à beira do abismo. A copa imponente da árvore de zimbro balançava ao vento, e de seus galhos emanava uma estranha melodia, que em tudo se parecia com uma música cigana.

Todos os dias, atraído por essa melodia, um jovem pastor cigano chamado Lavuta se aproximava da árvore sentava-se embaixo dela. Ele era conhecido como o melhor tocador de violino da região. As pessoas diziam que, quando ele tocava, era como se os mais melodiosos espíritos da floresta estivessem animando seu coração e seus dedos. Todos paravam seus afazeres para escutá-lo, até as crianças, as plantas, os animais e os rios se aquietavam num silêncio embevecido, quando Lavuta tocava.
Toda vez que ele ouvia o lamento da árvore de zimbro, deixava seu rebanho e vinha para perto dela, sentava-se, punha seu velho violino sob o queixo e começava a tocar. O violino estava bastante estragado, mas Lavuta gostava dele como se gosta de um amigo querido. Um dia, enquanto tocava entretido embaixo da árvore, o arco do violino se partiu. Lavuta depositou o violino no chão para examinar o arco, e no mesmo instante o violino escorregou precipício abaixo. Ele se levantou de um salto mas não conseguiu pegá-lo. O pastor desesperou-se pois aquele violino era tudo que ele tinha neste mundo, e chorou por muito tempo, até adormecer, inconformado, deitado de bruços, com o rosto na terra.

E então ele teve um sonho: ele estava ali, naquele mesmo lugar, escutando os murmúrios dos galhos da árvore de zimbro, e aos poucos o triste lamento foi se transformando numa música que soava como um violino. Ele percebeu que era seu violino que tocava sozinho e, junto com ele, uma voz de mulher cantava uma triste melodia cigana. Ele compreendia muito bem as palavras da canção, que dizia:
“Lavuta, pegue seu violino e toque, para todo mundo saber que eu fui morta por uma mulher má de dentes pontiagudos.”

O pastor, dentro do seu sonho, pensou que não poderia tocar, pois o violino tinha caído no precipício. Como se tivesse escutado seus pensamentos, uma voz ecoou lá do fundo do abismo, dizendo-lhe que cortasse o alto do tronco da árvore de zimbro e que com a madeira fizesse outro violino.

Quando acordou logo em seguida, Lavuta lembrou do sonho com todos os detalhes, achou tudo muito estranho, mas ao mesmo tempo resolveu não dar muita importância, pois aquilo tinha sido apenas um sonho.
Depois de reunir o rebanho, ele voltou para seu quarto, que ficava num lugar distante, dentro das terras do barão. Naquela mesma noite ele teve outro sonho: via uma linda jovem entrar no seu quarto segurando um violino. Olhando melhor, percebeu que era seu violino que ela estendia na sua direção. Em língua cigana ela dizia:
- Toque seu violino e depois quebre-o de encontro à mesa. Se fizer isso, eu serei sua mulher.
Em seguida ela desapareceu no ar e Lavuta acordou. Nesse mesmo momento ele tomou uma decisão. Na manhã seguinte, assim que se levantou, foi até a beira do precipício para cortar a árvore de zimbro. Passou o dia inteiro esculpindo e moldando a madeira, até que o violino ficou pronto quando a noite chegou. Feliz da vida, admirando sua obra, Lavuta se preparou para experimentar o violino, mas assim que ele levantou o arco, o violino começou a tocar sozinho. Era a mesma melodia e a mesma voz cantando a canção cigana do seu sonho.

A melodia soava muito alto e chegava lá fora, pela janela aberta do seu quarto. O cuidador de cavalos do barão, que passava por ali naquele momento, ouviu as estranhas palavras daquela música e foi falar com Lavuta.
- Quem está cantando? – ele perguntou.
Lavuta lhe contou toda a história desde seu primeiro sonho, e o amigo o aconselhou a mostrar o violino mágico para o barão.
- Você sabia – ele disse – que a mulher do barão era cigana? Acho que ele vai gostar de conhecer esse milagre e vai até compreender as palavras da canção.
Os dois foram juntos até a casa grande e pediram para ver o barão. Quando ele apareceu, o violino começou a tocar e o pobre arregalou os olhos, sobressaltado:
- É a voz da minha filha. Onde é que ela está?
Ele correu pelos cantos da sala, por toda parte, e não encontrou ninguém. Mas as palavras da música ele havia entendido muito bem, e sabia perfeitamente quem era a mulher má de dentes pontiagudos. Horrorizado, ele foi atrás da filha mais velha e não teve muito trabalho em fazê-la confessar o que havia feito. O velho barão expulsou as duas filhas de sua casa, dizendo-lhes que nunca mais voltassem, achando que Catina tivesse sido cúmplice da irmã, embora ela não soubesse de nada.

Enquanto isso, de volta ao seu quarto, Lavuta ficou um certo tempo segurando o violino mágico, pensando na jovem que havia aparecido no seu sonho.
- Será que é mesmo Leila, a filha do barão? – ele dizia para si mesmo. – Ela prometeu que se casaria comigo se eu quebrasse o violino na mesa.
Ele não sabia se devia ou não acreditar no sonho. Olhou o violino pela última vez e com um gesto firme espatifou-o de encontro à mesa. No mesmo momento, Leila apareceu, viva, diante dele. Na mão ela trazia seu velho violino, consertado, com cordas novas, a madeira brilhando, perfeita. Completamente aturdido, Lavuta escutou sua história.
- Durante dois anos eu fiquei enterrada no abismo – ela começou, falando com voz doce e perfumada. – Minha mãe foi uma cigana conhecedora das artes da magia. Quando meu pai a conheceu, ficou encantado com sua beleza e apaixonou-se por ela. Ela também o amou, mas antes de se casarem ela foi amaldiçoada por um espírito que a desejava para si. O espírito determinou que todas as crianças que nascessem daquela união seriam feias e más. Depois que minhas duas irmãs nasceram minha mãe suplicou ao espírito que a libertasse do feitiço. Ele concordou, com uma condição: quando ela tivesse outra criança, deveria morrer e ir viver com ele no reino dos espíritos. O preço da minha beleza foi a morte da minha mãe. Depois, quando minha irmã me empurrou no precipício, a alma da minha mãe se converteu no ramo de zimbro que eu agarrei na queda. E foi segurando o ramo, a mão de minha mãe, que eu caí lá embaixo. Criando raízes, o ramo virou árvore e eu pude nascer pela segunda vez do corpo da minha mãe. Mas minha forma humana eu só poderia recuperar se um homem transformasse a madeira da árvore no objeto mais querido do seu coração. Você amava seu violino, Lavuta, e quando ele caiu no abismo eu sabia que apenas você, com seu amor, poderia me devolver à vida. Por isso apareci no seu sonho e agora estou aqui.
- Parece que o que tinha que acontecer já foi feito – disse Lavuta. – Eu recebi meu violino de volta e você voltou a viver. Mas também me lembro de uma certa promessa...
- Eu não a esqueci – disse Leila com um sorriso encantador. – Você não quer experimentar seu violino antes de mais nada?
Lavuta se preparou para tocar e, como antes, o violino começou a tocar sozinho a melodia do sonho acompanhada da canção cigana. Pouco depois, o barão entrou , atraído pela música, e mal pôde acreditar quando viu a filha estendendo os braços apara abraçá-lo.
- Meu pai – ela disse -, o pastor Lavuta me devolveu à vida e eu prometi casar-me com ele.
O velho barão estava tão radiante que não fez nenhuma objeção ao casamento. Pouco importava se seu futuro genro era um pobre pastor; a única coisa que ele queria era ver sua filha feliz e viva.

E ele nunca teve nenhuma razão para se arrepender do seu consentimento. O pastor Lavuta ficou conhecido em todo o reino, não por ter se casado com a filha do barão, mas sim por ser o maior violinista de que aquele povo teve notícia. Até hoje se contam histórias que falam de como Leila e Lavuta se amaram, dos filhos que tiveram e de como o pastor prosperou e tornou-se senhor daquelas terras, graças à sua arte, que a todos encantava. Mas todas as histórias que foram contadas, de geração em geração, começam falando do verdadeiro amor e da sabedoria de uma mulher cigana.

Recontado por Regina Machado em: O violino cigano e outros contos de mulheres sábias. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Simbologia e Encantaria Cigana

Simbologia e Encantaria Cigana




Para os ciganos, a natureza é obra do Divino, é a manifestação de Devel(Deus), e por isso a respeitam. Eles valorizam as forças dessa natureza, e procuram utilizar as energias provenientes dela a seu favor.
Por isso muito se fala sobre a magia e a encantaria cigana, que nada mais é que a manipulação das energias provenientes dessa natureza.
Se utilizar dessa energia pro bem ou pro mal, vai da índole e propósito de cada um, por isso a um provervio cigano sobre isso:
"A sabedoria é como uma flor, de onde a abelha faz o mel e a aranha faz o veneno, cada uma de acordo com a sua própria natureza".
Os ciganos são considerados místicos, porque valorizam símbolos sagrados para eles, cada qual com sua representação como:
Coruja: representa a sabedoria, o enxergar através das trevas significa enxergar o que não se tem conhecimento, aquilo que se desconhece.
Ancora: É usada para trazer segurança e equilíbrio no plano físico, financeiro, e para se livrar de perdas materiais.
Chave: É usado para atrair boas soluções de problemas. É usado para mostrar as portas de abertura para um novo caminho, seja ele de amor, prosperidade, saúde, etc.
Estrela de 5 pontas: É usado para todos os tipos de proteções, sorte e sabedoria, representa o ser humano como um todo, o domínio do corpo da mente e do espírito, também conhecida como Pentagrama.
Estrela de 6 pontas: A estrela cigana é a de 5 pontas, a de 6 pontas representa o povo judeu. Representa a estrela de David, a alta magia – não necessáriamente refere-se a encantaria cigana.
Ferradura: Os ciganos têm a ferradura como um poderoso talismã, para atrair energia positiva e boa sorte. A ferradura representa o esforço e o trabalho. Muito utilizada atrás das tendas ciganas para atrair sorte e fartura.
Lua: A Lua é o símbolo utilizado pela Tchubane, representa também o Sagrado Feminino e a encantaria cigana no geral, já que a encantaria cigana é geralmente praticada por mulheres, para atrair percepção, o poder feminino, a cura e o exorcismo atentando sempre as fases: nova, crescente, cheia e minguante.
Moeda: Muito utilizada em magia de prosperidade, a moeda é associada ao equilíbrio e à justiça e relacionada à riqueza material e espiritual, para os ciganos cara é o material e coroa e espiritual.
Punhal: Simboliza a força,o poder, vitória e superação, O punhal também representa a honra do cigano.
Roda: a roda representa o caminhar, as mudanças. , podendo também representar o nosso ciclo de vida, morte e renascimento, é usada para atrair a evolução e o quilíbrio.
Taça: Simboliza união e receptividade, pois qualquer líquido cabe nela e adquire sua forma. As vezes significa também o ventre feminino.
Trevo: Trevo de quatro folhas: traz felicidade e fortuna.
Sol: Representa aquilo que é positivo, a liderança, o que é bom. Muito utilizado pelos Vaidas em suas carroças.
Assim como se utilizam dos elementos como fogo, água, terra, ar, nas suas danças sagradas para limpeza e energização de ambientes e do público.
As encantarias são feitos pelas Tchubane(feiticeira, curandeira), com elementos retirados da natureza para vários fins, como curas, prosperidade, justiça, limpezas astrais, harmonia, trabalho, negócios etc.
Então quando se utilizarem de alguma encantaria cigana, lembre-se de que está se ligando com o Divino, através das forças da natureza, e que o Divino é sagrado, então o respeitem e usem da sua sabedoria.
Kalissa Aléxis

ASTROLOGIA CIGANA

ASTROLOGIA CIGANA


Taça


21/01 a 19/02
Está relacionado este signo a criatividade de seus nativos, bem como a sua excentricidade, otimismo e alegria. O amor de taça é forte, duradouro e sério baseado na confiança e amizade. Seu ponto negativo centra-se em serem contestadores natos, provocando, muitas vezes, discussões sem razão e que não levam a nada. No entanto, são humanitários, solidários e cheios de esperança.
Capelas
20/02 a 20/03
São seus nativos compreensivos, amorosos e românticos. No amor é discreto, carinhoso e sensível. Seu ponto negativo reside no fato de tenderem a desilusão, bem como a dependência afetiva e a solidão. Mas, são também cheios de humildade, compaixão e muito inspirados espiritualmente.
Punhal
21/03 a 20/04
Seus nativos são apaixonados, aventureiros e intensos. No amor é direto e sincero, desprovido de subterfúgios, adepto do amor a primeira vista. Sua negatividade está em sua agressividade e arbitrariedade, assim como em sua impulsividade. Contudo, são também dinâmicos, espontâneos e cheios de energia.
Coroa
21/04 a 20/05
O nativo de coroa ama intensamente e possui uma gratidão incomparável. É também requintado, produtivo e valoroso. Seu ponto negativo está em seus ciúmes desmedidos, rancor e possessividade. Porém, podem ser práticos e ter um grande senso estético.
Candeias
21/05 a 20/06
É curioso e interessado em aprender, comunicativo e versátil. No amor é calmo e pacífico, adorando jogo da paquera. Seu ponto negativo está em sua tendência a ser infiel e superficial. Entretanto, são inteligentes e sempre sociáveis.
Roda
21/06 a 21/07
Sonhador, romântico e afetuoso para com todos, este é o perfil do nativo de Roda – alguém dedicado ao amor. Sua negatividade reside em sua ansiedade, em sua tendência a lamentações e a chantagem emocional. No entanto, também são sensíveis, intuitivos e protetores.
Estrela
22/07 a 22/08
Seus nativos são imponentes, seguros e nobres. Mas também podem ser egoístas, narcisistas e orgulhosos ao extremo, especialmente no amor. Contudo, são também pessoas de grande caráter e cheios de alegria de viver.
Sino
23/08 a 22/09
São pessoas de grande concentração e de um profissionalismo ímpar. No campo afetivo ama poucas vezes mas sempre de forma duradoura e fiel. Seus pontos negativos estão em suas manias e seu hábito de criticar de forma cruel. Mas, também são organizados e perspicazes.
Moeda
23/09 a 22/10
Seus nativos são sociáveis, falantes e especialmente conciliadores. No amor é equilibrado, respeitador e companheiro. Mas podem ser também bajuladores, interesseiros e injustos. Porém, são pessoas elegantes e amigáveis.
Adaga
23/10 a 21/11
Possuem seus nativos um magnetismo enorme, assim como uma vitalidade incomparável. No amor são sensuais e ardentes, cheios de criatividade. Sua negatividade está em sua tendência a manipulação, ao rancor e a vingança. Mas também são generosos, líderes responsáveis e de grande fé.
Machado
22/11 a 21/12
Seus nativos são pessoas positivas, de bem com a vida e joviais. No amor é arrebatado e entusiasmado sempre. Seu ponto negativo está em seu deboche, humor ácido e exageros. Mas também podem ser idealistas, otimistas e cheios de espírito esportivo.
Ferradura
22/12 a 20/01
A sinceridade dos nativos e Ferradura é notável, assim como sua maturidade e honestidade. No amor é direto e cheio de verdade. Sua negatividade está em sua avareza, ambição desmedida e em sua tendência a frustração. Mas, estes nativos também podem ser pessoas de bom humor, elegantes em suas relações pessoais e conscientes.

Elaborado por Lyanka Alexys

A HISTORIA DE IVAN

A HISTORIA DE IVAN

Ninguém ao certo sabia o que ia em seu coração…
Homem carismático e impetuoso! Quando seu pai morreu em batalha, estava claro que seria ele a sucedê-lo na liderança do clã. Mas não foi bem assim que as coisas aconteceram… Além do sofrimento pela grande perda, encheu-se de dúvidas a respeito do rumo que a guerra entre as famílias tinha tomado.
Era acima de tudo um idealista, um sonhador! Almejava a paz para os povos, a união de todos em uma Grande Família! Sempre esteve a frente de seu tempo! E por inúmeras vezes tentou mostrar ao líder de seu povo, seu pai, a possibilidade de suas idéias… Por vezes, saiu triste e frustrado de suas reuniões com o Conselho.
Era em vão tentar mostrar àqueles homens que existia um mundo diferente além de suas tradições arcaicas.
Parecia só, muito só!
Encontrava conforto na música, na dança, na alegria em volta da fogueira acesa todas as noites no centro do acampamento!
Afinal era um cigano! E quando tomava na mão seu violão, tocava-o com paixão, deixando a todos embriagados com seus sons, por vezes fortes e vibrantes, por vezes suaves lamentos, chorosos, doídos! E como dançava! Procurava seu par com aqueles olhos negros a vagar entre as moças sentadas ao redor.
A escolhida levantava-se impulsionada pela força daqueles olhos profundos, repletos de promessas… Bailavam…bailavam e enchiam os olhos da platéia com a dança sinuosa, cadenciada e passional de seus antepassados.
 Tinha todas as mulheres presas a ele, mas não era de ninguém. Nunca foi. Seu coração era livre, era do mundo, era da vida.
Passaram-se os dias e a sucessão se aproximava… Procurou por ela, Carmen, sua irmã de coração, amiga e confidente.
Pediu que ela se encontrasse com ele à beira da estrada, longe do acampamento, quando todos já tivessem se recolhido às tendas para dormir.
E assim foi… Quando ela se aproximou do lugar marcado para o encontro, lá estava ele, ao lado de seu cavalo selado, pronto para partida.
Parecia uma visão fantasmagórica iluminada pela luz da Lua que ia alta no céu estrela do
Fechou a mão ao peito, como se com esse gesto pudesse conter a dor que sentiu naquele instante… Sabia! Nada precisava ser dito! Ivan estava indo embora, fugindo ao seu destino… Que desgraça, meu Deus!
O que seria dele!…
Ele se adiantou, caminhando tranqüilamente até ela, segurou suas mãos firmemente, e olhando-a nos olhos, jurou que um dia iriam se encontrar novamente. Pediu que ela fosse portadora de suas palavras junto a seu povo.
Ele não os estava abandonando à própria sorte. Precisa fazer isso! Por eles! Estava indo em busca de um ideal, para que as gerações futuras não mais sofressem com tanto derramamento de sangue, tanta dor, tanto medo! Pediu que não chorasse e que mantivesse acesa em seu peito a chama da esperança! Num último gesto, tirou o punhal da cinta e entregou-o a uma Carmen atônita, seu objeto mais precioso, símbolo do sangue cigano que corria em suas veias.
Ela, Carmen, com o punhal cravejado de rubis às mãos, vendo Ivan montar o cavalo e se preparar para deixá-la só, sozinha com seus pensamentos, teve forças para levar o punhal aos lábios, beijá-lo e apertá-lo junto ao peito, em sinal de juramento eterno. E ali quedou-se, e permaneceu por um longo tempo, admirando a silhueta do homem e seu cavalo desaparecer ao longo do caminho e da mais completa escuridão…
 
Ao longo dos anos após sua partida, pouco se soube de Ivan. Para seu povo, era um renegado! Muitos admiraram seu ato, mas permaneceram em silêncio…
Apenas Carmen o defendeu abertamente e por isso foi punida com o exílio. Sumiu no mundo sem deixar rastro, como se nunca tivesse existido! O cheiro de vingança pairou sobre aquela tribo de nômades… Um dia haveria sangue negro para aplacar o ódio que ia no coração de alguns, por terem sido enganados e ridicularizados abertamente por aquele homem-menino inconseqüente!
O homem-menino deixou de ser menino… Ganhou o mundo! Andou por novas paragens, conheceu outras culturas, fez amigos e inimigos.
Teve todas as mulheres que quis. À elas, não prometia nada, apenas a paixão de uma noite.
E elas, queriam estar com ele mesmo assim, enlaçadas por seus encantos. Apenas uma mulher amou e odiou! Aquela o fez derramar lágrimas amargas.
Por ela foi torturado e magoado. Enganado, foi deixado para traz… Sofreu muito sua ausência, e jurou jamais acreditar numa mulher outra vêz! Aprendeu muito! Trabalhou duro! Defendeu as classes menos abastadas! Falou ao mundo sobre seus ideais! E exatamente, por isso, tombou… Preso, viu seus dias se escoarem pelos vãos daquela cela fétida…
Não queria morrer assim! Amava a liberdade! Amava a vida! Já não podia mais contemplar a natureza…sentia falta do cheiro de mato molhado após a chuva bendita… Seu violão lhe fora tirado e seus dedos não mais podiam tocar, estavam esmigalhados de tantas torturas sofridas…
Pedia a Deus todos os dias que o tirasse dali! Tinha tanto a fazer! Tinha tanto a dizer! E num dia qualquer, suas preces foram atendidas…
Foi levado à presença de dois homens, que encapuzados, como estavam, num manto negro que ia até o chão, num primeiro momento, não pode saber quem eram seus salvadores.
Apenas lhe foi comunicado que aqueles homens estavam ali para levá-lo para junto dos seus. Sorriu à vaga lembrança de seu povo…quanta saudade…
Foi solto e levado por aqueles homens a um casebre em ruínas afastado da cidade… Tamanha era sua alegria em ver o Sol, o rosto das pessoas, o som da liberdade novamente, que nada desconfiou, nada percebeu a cerca de seu destino…
Chegado ao local, foi preso novamente a grossas correntes, numa cela úmida e sem janelas, em total escuridão… Lutou pela vida bravamente, até que aceitou sua situação! Viu o ódio nos olhos daqueles homens, eram seus Vingadores. Num primeiro momento, revoltou-se. Mas depois, teve pena daquelas pobres criaturas que se deixaram consumir por sentimentos malditos!
Seriam almas sujas de sangue pela eternidade… Sentiu o primeiro golpe de punhal em seu flanco esquerdo…Depois, mais outro e mais outro e mais outro…
A carnificina estava sendo executada afinal!
 E o destino daquelas três pessoas estava sendo selado naquele momento…
O derradeiro instante se aproximava, e com ele veio o último golpe, na boca do estômago… Ivan então foi deixado só, em agonia, ainda com um fio de vida a passar por seu corpo…
Fechou os olhos, viu sua vida inteira passar em sua mente como num filme… Soltou um profundo lamento!
Fez uma breve oração! Se perdoou e perdoou a todos que o magoaram…. Viu Carmen pela última vez! Sorriu! Sua promessa estava cumprida! E só então entregou-se, de alma limpa, pronto para a nova aventura, a nova jornada que o esperava…
 Estava livre!

SEXO TÂNTRICO – KAMA SUTRA

SEXO TÂNTRICO – KAMA SUTRA

Kama Sutra, sexo tântrico, não é um pouco estranho gente tão moderna quanto nós ir buscar lá atrás, em algum momento do início da era cristã (ou mesmo antes) referências e modelos para injetar mais sentido e graça na nossa vida sexual?
O sexo sempre foi uma espécie de “campo dos sonhos” para as criaturas humanas. Nenhuma outra atividade, com exceção, talvez, da morte, foi tão revestida de tabus e de rituais. De significados e de mistérios. Isto, é bom que se diga, não tem nada a ver com moralismo, com puritanismo ou com nossas idéias cristãs de pecado. Não. Para nosso ancestrais, compreender e controlar a vida sexual era uma questão literalmente de vida ou de morte.
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Primeiros abraços
Penso nos primeiros hominídeos (é assim que os estudiosos chamam estes avós humanos ainda tão próximos dos macacos e mesmo assim, já tão longe deles). Ao que tudo indica, a posição de pé e o tamanho mais avantajado dos cérebros, fazia os bebês humanos nascerem de certa forma prematuros. Nossos filhotes exigiam cuidados redobrados e por muito mais tempo. Isto pressupunha uma colaboração inédita entre machos e fêmeas. Entre a maioria dos mamíferos, apenas alguns machos vão se reproduzir, os demais ou ficam rondando os mais velhos, sempre prestes a ocupar seu lugar, ou são expulsos para bem longe do grupo. Machos jovens eram um perigo sempre iminente para a estabilidade do grupo. Mas esta disputa biológica não combinava com o estilo cooperativo das famílias humanas do início. E foi assim em torno de uma distribuição adequada de fêmeas jovens e de modo a facilitar a colaboração e, portanto, a sobrevivência da espécie, que nasceram as primeiras realizações propriamente humanas. Nasceu o controle e junto com ele, os mitos, os rituais, os sonhos.
Estes arranjos iniciais deram forma à primeira família humana. Ao contrário do que imaginamos, ela não tinha nada a ver com a nossa fórmula pai-mãe-filhos. Provavelmente estava centrada na figura da mãe, de seus irmãos, de sua prole. Aqui, a figura masculina fundamental era, na verdade, o tio materno. E digo isto porque às vezes a gente acha que nosso jeito foi O JEITO inicial, aquele básico, modelo para todos os outros. E quem não for como nós, no mínimo, é esquisito. Nada disso. Nossos ancestrais eram mestres em criar soluções criativas e ousadas. E, afinal, podiam bem fazer isto: estavam começando do zero!!
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Orgias e rituais: o casamento sagrado
E voltando para nossa história, à medida em que a consciência humana tornava-se mais e mais complexa e sofisticada e a busca de sentido extravasava os pequenos assuntos humanos, parecia evidente que se o sexo era fundamental para garantir a própria vida, havia grandes chances de que ele também fosse o grande motor de todo o Universo. A fertilidade da mulher e da natureza associadas garantiam a vida pulsando em todos os níveis, no céu e na terra. O grande historiador das religiões, Mircea Eliade, explica que é por isto que todos os povos primitivos incluem orgias e rituais de fertilidade na sua vida espiritual (as nossas inocentes festas juninas e, é claro, o Carnaval, são lembranças destes momentos). Na época das colheitas ou no tempo de semear, as aldeias se enchiam de festa e de excitação, tudo terminando com cópulas ao ar livre que duravam até o dia clarear, trazendo de volta a rotina e o controle…
“De modo geral”, diz Mircea Eliade, “ a orgia corresponde à hierogamia (casamento sagrado). À união do par divino deve corresponder, na terra, o delírio original. Junto com os jovens casais que repetiam a hierogamia nos sulcos arados, devia produzir-se o aumento máximo das forças da coletividade (…) os excessos quebram as barreiras entre os homens, a sociedade, a natureza e os deuses (…) fazem circular a força, a vida (…) aquilo que estava vazio de substãncia, se ressarce; aquilo que era fragmentado reintegra-se na unidade; aquilo que estava isolado funde-se na grande matriz universal. A orgia fazia circular a energia vital e sagrada”.
Sexo era coisa muito séria nestes tempos. Estava longe de ser uma brincadeira deixada à mercê do gosto de cada um. E, no entanto…não soa extraordinariamente interessante? O reconhecimento da importância da vida sexual chegou aos poucos a refinamentos inimagináveis para nosso olhos gastos de Playboys.
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Sexo à moda hindu
Estamos falando do Tantra, que, em sânscrito, quer dizer algo como liberação através da expansão e cujos ensinamentos compõem tanto as escrituras esotéricas do hinduísmo quanto do budismo Vajrayna (Veículo do Diamante) também. Estes textos são muitíssimo antigos. Embora a palavra tenha surgido só no século 6, as pistas apontam para uma origem mais remota. E alguns estudiosos afirmam até que o tantra era praticado na Índia mesmo antes da chegada dos arianos e que ele faria parte das crenças das primeiras culturas humanas que floresceram acompanhando as curvas do rio Indo, como Mohenjo-Daro e Harappa. Se estas conjecturas forem verdade (o que provavelmente não saberemos e vamos ter que continuar apenas imaginando), os princípios do tantrismo acompanham os seres humanos desde o ano 2000…antes da era cristã!
As doutrinas tântricas cercam inúmeros aspectos do existir humano, mas foram os rituais dedicados ao primoramento da vida sexual que acabaram ficando famosos no Ocidente. No tantrismo, o corpo transforma-se num templo, uma expressão da essência divina, um instrumento de acessso ao ilimitado, ao transcendente.
Durante esta união sexual, chamada maithuna, cujo objetivo não é a ejaculação nem o orgasmo, mas o gozo da energia transformada, a mulher torna-se Shakti, a deusa, e o homem veste os gestos de Shiva, seu consorte. Shiva é o deus dançarino que cria, mantém e destrói o universo. Shakti é a deusa-mãe de toda a vida, fonte de prazer e caminho para a transcendência. As técnica do sexo tântrico procuram justamente revelar, por trás das nossas aparências comuns, de nosso corpos desajeitados, de nossas almas apagadas, os deuses e deusas que ainda somos. E que dormem, feito a serpente de pura energia, chamada Kundalini, em algum lugar de nós. Apenas o fogo sagrado do amor pode acordar tais personagens e nos fazer relembrar nosso parentesco sagrado.
O caminho do tantrismo propõe a exploração última dos mistérios de cada um como uma forma de alcançar a iluminação e o divino. Banalizado, resume-se a uma série meio tediosa de exercícios, que hoje são vendidos como sendo capazes de “melhorar” o desempenho sexual. Mas, no fundo, no fundo, junto com os famosos exercícios, talvez seja justamente o tempo de recuperar o espírito destes rituais e encher de significado e respeito pelo divino que habita no outro, nossa experiência sexual.
Adília Belotti é jornalista e mãe de quatro filhos. É editora responsável pelo Delas, o site feminino do portal IG, onde tem uma coluna chamada Toques de alma. Além disso, cuida do IgEducação e de um site de cultura multimídia, o Arte Digital. Agora também é colunista do Somos Todos UM.