A HISTORIA DE IVAN
Ninguém ao certo sabia o que ia em seu coração…
Homem carismático e impetuoso! Quando seu pai morreu em batalha, estava claro que seria ele a sucedê-lo na liderança do clã. Mas não foi bem assim que as coisas aconteceram… Além do sofrimento pela grande perda, encheu-se de dúvidas a respeito do rumo que a guerra entre as famílias tinha tomado.
Era acima de tudo um idealista, um sonhador! Almejava a paz para os povos, a união de todos em uma Grande Família! Sempre esteve a frente de seu tempo! E por inúmeras vezes tentou mostrar ao líder de seu povo, seu pai, a possibilidade de suas idéias… Por vezes, saiu triste e frustrado de suas reuniões com o Conselho.
Era em vão tentar mostrar àqueles homens que existia um mundo diferente além de suas tradições arcaicas.
Parecia só, muito só!
Encontrava conforto na música, na dança, na alegria em volta da fogueira acesa todas as noites no centro do acampamento!
Afinal era um cigano! E quando tomava na mão seu violão, tocava-o com paixão, deixando a todos embriagados com seus sons, por vezes fortes e vibrantes, por vezes suaves lamentos, chorosos, doídos! E como dançava! Procurava seu par com aqueles olhos negros a vagar entre as moças sentadas ao redor.
A escolhida levantava-se impulsionada pela força daqueles olhos profundos, repletos de promessas… Bailavam…bailavam e enchiam os olhos da platéia com a dança sinuosa, cadenciada e passional de seus antepassados.
Tinha todas as mulheres presas a ele, mas não era de ninguém. Nunca foi. Seu coração era livre, era do mundo, era da vida.
Passaram-se os dias e a sucessão se aproximava… Procurou por ela, Carmen, sua irmã de coração, amiga e confidente.
Pediu que ela se encontrasse com ele à beira da estrada, longe do acampamento, quando todos já tivessem se recolhido às tendas para dormir.
E assim foi… Quando ela se aproximou do lugar marcado para o encontro, lá estava ele, ao lado de seu cavalo selado, pronto para partida.
Parecia uma visão fantasmagórica iluminada pela luz da Lua que ia alta no céu estrela do
Fechou a mão ao peito, como se com esse gesto pudesse conter a dor que sentiu naquele instante… Sabia! Nada precisava ser dito! Ivan estava indo embora, fugindo ao seu destino… Que desgraça, meu Deus!
O que seria dele!…
Ele se adiantou, caminhando tranqüilamente até ela, segurou suas mãos firmemente, e olhando-a nos olhos, jurou que um dia iriam se encontrar novamente. Pediu que ela fosse portadora de suas palavras junto a seu povo.
Ele não os estava abandonando à própria sorte. Precisa fazer isso! Por eles! Estava indo em busca de um ideal, para que as gerações futuras não mais sofressem com tanto derramamento de sangue, tanta dor, tanto medo! Pediu que não chorasse e que mantivesse acesa em seu peito a chama da esperança! Num último gesto, tirou o punhal da cinta e entregou-o a uma Carmen atônita, seu objeto mais precioso, símbolo do sangue cigano que corria em suas veias.
Ela, Carmen, com o punhal cravejado de rubis às mãos, vendo Ivan montar o cavalo e se preparar para deixá-la só, sozinha com seus pensamentos, teve forças para levar o punhal aos lábios, beijá-lo e apertá-lo junto ao peito, em sinal de juramento eterno. E ali quedou-se, e permaneceu por um longo tempo, admirando a silhueta do homem e seu cavalo desaparecer ao longo do caminho e da mais completa escuridão…
Ao longo dos anos após sua partida, pouco se soube de Ivan. Para seu povo, era um renegado! Muitos admiraram seu ato, mas permaneceram em silêncio…
Apenas Carmen o defendeu abertamente e por isso foi punida com o exílio. Sumiu no mundo sem deixar rastro, como se nunca tivesse existido! O cheiro de vingança pairou sobre aquela tribo de nômades… Um dia haveria sangue negro para aplacar o ódio que ia no coração de alguns, por terem sido enganados e ridicularizados abertamente por aquele homem-menino inconseqüente!
O homem-menino deixou de ser menino… Ganhou o mundo! Andou por novas paragens, conheceu outras culturas, fez amigos e inimigos.
Teve todas as mulheres que quis. À elas, não prometia nada, apenas a paixão de uma noite.
E elas, queriam estar com ele mesmo assim, enlaçadas por seus encantos. Apenas uma mulher amou e odiou! Aquela o fez derramar lágrimas amargas.
Por ela foi torturado e magoado. Enganado, foi deixado para traz… Sofreu muito sua ausência, e jurou jamais acreditar numa mulher outra vêz! Aprendeu muito! Trabalhou duro! Defendeu as classes menos abastadas! Falou ao mundo sobre seus ideais! E exatamente, por isso, tombou… Preso, viu seus dias se escoarem pelos vãos daquela cela fétida…
Não queria morrer assim! Amava a liberdade! Amava a vida! Já não podia mais contemplar a natureza…sentia falta do cheiro de mato molhado após a chuva bendita… Seu violão lhe fora tirado e seus dedos não mais podiam tocar, estavam esmigalhados de tantas torturas sofridas…
Pedia a Deus todos os dias que o tirasse dali! Tinha tanto a fazer! Tinha tanto a dizer! E num dia qualquer, suas preces foram atendidas…
Foi levado à presença de dois homens, que encapuzados, como estavam, num manto negro que ia até o chão, num primeiro momento, não pode saber quem eram seus salvadores.
Apenas lhe foi comunicado que aqueles homens estavam ali para levá-lo para junto dos seus. Sorriu à vaga lembrança de seu povo…quanta saudade…
Foi solto e levado por aqueles homens a um casebre em ruínas afastado da cidade… Tamanha era sua alegria em ver o Sol, o rosto das pessoas, o som da liberdade novamente, que nada desconfiou, nada percebeu a cerca de seu destino…
Chegado ao local, foi preso novamente a grossas correntes, numa cela úmida e sem janelas, em total escuridão… Lutou pela vida bravamente, até que aceitou sua situação! Viu o ódio nos olhos daqueles homens, eram seus Vingadores. Num primeiro momento, revoltou-se. Mas depois, teve pena daquelas pobres criaturas que se deixaram consumir por sentimentos malditos!
Chegado ao local, foi preso novamente a grossas correntes, numa cela úmida e sem janelas, em total escuridão… Lutou pela vida bravamente, até que aceitou sua situação! Viu o ódio nos olhos daqueles homens, eram seus Vingadores. Num primeiro momento, revoltou-se. Mas depois, teve pena daquelas pobres criaturas que se deixaram consumir por sentimentos malditos!
Seriam almas sujas de sangue pela eternidade… Sentiu o primeiro golpe de punhal em seu flanco esquerdo…Depois, mais outro e mais outro e mais outro…
A carnificina estava sendo executada afinal!
E o destino daquelas três pessoas estava sendo selado naquele momento…
O derradeiro instante se aproximava, e com ele veio o último golpe, na boca do estômago… Ivan então foi deixado só, em agonia, ainda com um fio de vida a passar por seu corpo…
Fechou os olhos, viu sua vida inteira passar em sua mente como num filme… Soltou um profundo lamento!
Fez uma breve oração! Se perdoou e perdoou a todos que o magoaram…. Viu Carmen pela última vez! Sorriu! Sua promessa estava cumprida! E só então entregou-se, de alma limpa, pronto para a nova aventura, a nova jornada que o esperava…
Estava livre!
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