“Eles se movem como o sol e a lua. São nômades. Ou, antes, são como as ondas. Estão em toda parte. Chegam e partem rápido. Parecem o vento. Num momento estão aqui, no outro, sumiram. Numa lufada, deixam traços indeléveis de sua passagem no eco de sua música, no relinchar de seus cavalos, no sorriso alegre de suas mulheres. Não, não são o vento. São os filhos do vento!”.
O texto acima faz parte de um poema escrito na Pérsia 200 a 400 anos antes de Cristo. Um povo é chamado de Filhos do Vento e a ele se refere o autor anônimo como “o povo que veio do rio!, numa alusão ao Rio Sind, no norte da Índia, na região de Gujarat. Ali havia se estabelecido esse povo, cultivando a agricultura de forma incipiente, mas dedicando-se à criação de animais, à metalurgia, que alcançou grande desenvolvimento com o udo do cobre, metal no qual se tornaram especialistas.
As lendas mais antigas, contadas boca a boca pelos anciãos da tribo, falam que o povo hoje chamado de cigano originou-se dos descendentes dos anjos caídos que se juntaram com “as filhas dos homens”, conforme descrito no Livro Apócrifo de Enoque. Uma outra lenda, no entanto, conta que os descendentes de Hagar, a escrava de Sara, mulher de Abraão que, após te dado um filho ao seu senhor, foi humilhada e expulsa por Sara. No deserto, Hagar encontrava-se junto a uma fonte, no caminho de Sur, quando um anjo do Senhor percebeu sua presença e interrogou-a:
– Hagar, de onde vens, serva de Sara? E para onde vais, afastando-te de tua ama e senhora?
Respondeu Hagar:
– Fujo da presença dela, que me humilhou e expulsou.
– E o que fizestes para merecer isso?
- Dei ao meu amo e senhor, um filho, por ordem dela. Agora meu filho, tanto quanto eu fui, será um escravo entre eles.
O anjo, que conhecia os planos do Senhor para com Abraão e sua descendência, aconselhou Hagar:
– Volta para a tua senhora. Humilha-te, se for preciso, pois grandes coisas estão reservadas para ti.
– A escravidão é um fardo pesado demais para mim e para os meus…
– Pois então a liberdade será a marca de tua descendência. Eu a farei tão numerosa como sementes ao vento, para que se espalhem por toda a terra e não conheçam fronteiras.
Concebeste e darás à luz um varão, a quem chamarás Ismael, porque o Senhor te acudiu na tua aflição. Ele será indomável entre os homens, e não conhecerá freio nem rédeas. Habitará entre todos os homens, mas não conhecerá fronteira. Sua passagem será como a passagem do vento.
E por isso Hagar retornou à tenda de Abraão e tudo se confirmou, conforme o anjo havia predito. Após Ismael, Hagar teve outros filhos e filhas, que por sua vez se multiplicaram, indo habitar as terras às margens do Rio.
Uma outra lenda conta que os atuais ciganos são descendentes diretos de Adão e Lilith, uma mulher anterior a Eva. Por esse motivo, os ciganos formam o único povo a não nascer com o pecado original. Do nome original desse povo, nada mais se sabe e não existem registro nem documentos de espécie alguma para nomeá-los. Sabe-se, porém, que ao se espalharem pela Europa, foram erroneamente dados como vindos do Egito, razão pela qual foram denominados inicialmente como “egiptanos”, dando origem a “gitanos”, em espanhol, e a ciganos, em português. Em língua inglesa são conhecidos como “gypsy”, também de “egyptian”. Em francês, são chamados “egyptiens” e em húngaro “egyptener”. Isso acontece porque, em sua movimentação, um grupo de ciganos deixou a Pérsia, passou pelo Egito e dali ganhou a Europa. Essa migração iniciou-se com pequenos bandos, por volta de 1200 depois de Cristo e foi atingir seu auge no século XV.
Pelo mundo todo existiram e existem ainda diversas teorias científicas sobre a origem dos ciganos, muitas delas interessantíssimas.
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